No dia 20 de Julho de 1969, a história foi marcada por uma pegada. A bordo do módulo lunar Eagle, os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin, ambos a serviço da missão Apollo 11, pousaram sobre a superfície da Lua, sendo Neil o primeiro homem na história a pisar em solo lunar.
Antes desse passo tão importante, é válido analisarmos o caminho que proporcionou esse momento, ou melhor, a corrida que mudou o mundo.
A história por trás do primeiro homem a pisar na Lua
Em 1950, quando voos tripulados começaram a acontecer, o mundo vivia uma grande guerra silenciosa (que por vezes não foi tão silenciosa assim). O cenário mundial era um grande embate político entre as duas superpotências existentes: de um lado a bandeira capitalista era defendida pelos Estados Unidos da América (EUA); e do outro a bandeira vermelha, simbolizando o socialismo, era representada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (a extinta URSS).
Bem, o que levar um homem até a lua muda nesse confronto ideológico? Tudo! Pois a conquista pelo espaço significava muito mais que um feito científico, significava poder! Uma vez que a diferença entre foguetes capazes de realizar missões e mísseis com potencial destrutivo é, simplesmente, a sua finalidade. Então, recebendo o nome de Corrida Espacial, essa briga pelo espaço nunca foi só pelo conhecimento, e a imensidão do universo não intimidava essas ideologias.
Assim, essa corrida teve o seu final no passo mais famoso da história. Em 20 de Julho de 1969, quando tivemos a primeira alunissagem tripulada, se dava fim a corrida mais longa já datada. Foi um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para os EUA, que mesmo depois de muitas derrotas no campo espacial conseguiram dar a cartada final e saíram vencedores de uma das batalhas mais importantes da Guerra Fria.
A Apollo 11
A Apollo 11 foi a missão responsável por esse feito. Sendo a 19ª missão do programa Apollo, dentre testes e missões importantes, se tornou a mais famosa dentre todas. Além de ser uma das histórias mais conhecidas de todos os tempos, pois foi televisionada ao vivo ao redor de todo o mundo.
Ela foi lançada por um foguete Saturno V do Centro Espacial John F. Kennedy na Flórida às 13 h 32 min UTC de 16 de julho. Ademais, foi a quinta missão tripulada do Programa Apollo da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA). A nave Apollo era composta por três partes:
- Módulo de comando (denominado Módulo de comando Columbia) que possuía uma cabine com capacidade de comportar 3 astronautas. Esta foi a única parte que retornou para a Terra. Além disso, esse módulo foi o local onde Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins ficaram durante a jornada até o nosso satélite natural;
- Módulo de serviço, que apoiava o módulo de comando com propulsão, energia elétrica, oxigênio e água;
- Módulo lunar é chamado carinhosamente de Módulo Lunar Eagle. Sendo dividido em 2 estágios: um de descida para a Lua e um de subida para levar os astronautas de volta à órbita.
A viagem
Um evento que parou o mundo, impactou ainda mais as localidades próximas. Dessa forma, estima-se que 1 milhão de pessoas assistiram ao lançamento das rodovias e praias próximas a base onde ocorreu o lançamento.
O lançador entrou em órbita 12 minutos depois que deixou o solo terrestre (13 h 44 min UTC), atingindo a altitude de 185,9 por 183,2 quilômetros. Em seguida, às 16 h 22 min 13 s UTC o motor do terceiro estágio S-IVB fez uma queima de injeção translunar impulsionando a nave espacial em uma trajetória em direção à Lua.
Michael Collins foi para o assento esquerdo, onde encontravam-se os controles, e 30 minutos depois executou uma manobra de transposição, acoplamento e extração. Essa manobra constituiu em separar o Columbia (módulo de controle) do estágio S-IVB (terceiro estágio), dar a volta, acoplar-se com o Eagle (módulo lunar) ainda preso no estágio e extraí-lo. Após essa manobra, a nova formatação seguiu para a Lua, e o resto do foguete foi direcionado para uma trajetória além do satélite natural. O motivo para direcionar essas partes obsoletas para longe era impedir que o foguete colidisse com a nave, com a Terra ou com a Lua. O efeito estilingue fez com que esses componentes passassem da Lua e entrassem na órbita do Sol.
O Grande passo para a humanidade
Já em órbita da lua, Armstrong e Aldrin começaram a se preparar para entrar na história às 12 h 52 min UTC de 20 de julho. Ambos acomodados no módulo Eagle e com tudo pronto, às 17 h 44 min a espaçonave separou-se do Columbia. E naquele instante, o mundo parou por alguns segundos, pois ali, estávamos prestes a ver os primeiros seres humanos a caminhar no desconhecido. Collins, por sua vez, permaneceu no Columbia e, enquanto inspecionava o Eagle manobrar na sua frente, verificando se a nave não estava danificada e se os trens de pouso estavam propriamente abertos, ouviu Armstrong exclamar: “O Eagle tem asas!”. Collins viu a lua como nós vemos um sonho que sempre foi intangível aproximando-se de uma forma assustadoramente linda, mas intocável.
A conturbada descida ao desconhecido
A dupla iniciou sua descida e logo perceberam que algo estava errado, pois estavam dois ou três segundos mais rápidos do que o esperado, relatando que estavam distantes do que haviam previsto. Eles estavam viajando de forma não previsível no local mais hostil que um ser humano já esteve. Diante disso, uma coisa era certa, por estarem muito rápidos eles alunissariam quilômetros ao oeste do local planejado. O problema pode ter sido causado por mascons, que são altas concentrações de massa que podem ter alterado a trajetória da nave espacial. Gene Kranz, o Diretor de Voo, especulou que isso poderia ter sido o resultado de uma pressão do ar extra no túnel de acoplagem, ou que poderia também ser o resultado da manobra de pirueta do Eagle. Depois de refazem os cálculos e analisarem a situação, a conclusão foi que era seguro continuar com a descida.
Com o combustível chegando ao fim, Amstrong estava determinado a pousar no primeiro lugar possível. Portanto, quando estavam a 76 metros de altura ele encontrou um pedaço limpo de superfície e manobrou a nave. Porém, nesse momento ele descobriu que seu novo local de alunissagem tinha uma cratera enorme. Passando da cratera, gastando mais combustível, ele encontrou outro local nivelado. O Eagle nesse momento estava a 30 metros da superfície e com apenas 90 segundos de combustível restante. A poeira proveniente dos motores do Módulo Lunar começaram a atrapalhar sua capacidade de determinar a movimentação da nave. Algumas pedras maiores sobressaíram em meio da poeira e o piloto decidiu focar nelas durante a descida para que pudesse determinar sua velocidade.
A caminhada na Lua
Depois do caos, às 20 h 17 min 40 s UTC de domingo, 20 de julho de 1969, com apenas 25 segundos de combustível, o Eagle alunissou em segurança. Aldrin entrou em contato com a Terra duas horas e meia após a alunissagem e antes do início das preparações para a atividade extraveicular:
“Aqui é o piloto do [Módulo Lunar]. Eu gostaria de aproveitar esta oportunidade para pedir para que cada pessoa que estiver ouvindo, quem quer que seja e onde quer que esteja, que pare por um momento e contemple os eventos das últimas horas e agradeça à sua própria maneira.”
Buzz Aldrin
Depois de três horas e meia, os dois astronautas estavam prontos para abrir a escotilha e saírem. Então, às 2 h 39 min 33 s Neil começou a sair, registrando, naquele momento, um dos maiores batimentos cardíacos dentre todos astronautas que estariam na mesma posição que ele.
Já vivenciando a história, ele descobriu uma placa montada no estágio de descida do Módulo Lunar contendo desenhos dos hemisférios ocidental e oriental da Terra, as assinaturas dele e dos dois companheiros de missão e do presidente da época Richard Nixon, além de uma inscrição que dizia: “Aqui, homens do planeta Terra pela primeira vez pisaram sobre a Lua, julho de 1969 D.C. Nós viemos em paz por toda a humanidade”.
Antes de pisar na lua, ele descreveu a poeira da superfície como “muito bem granulada” e “quase como um pó”. Em seguida, pisou fora do trem de pouso do Eagle às 2 h 56 min 15 s UTC e falou a famosa frase:
“É um pequeno passo para [um] homem, um salto gigante para a humanidade”.
Neil Armstrong
A volta dos heróis
Dentre motivações políticas e coletas científicas, após fincar a bandeira americana na superfície lunar, aproximava-se o momento de voltar para a Terra.
Primeiramente, os astronautas coletaram 21,55 kg de amostras da superfície lunar e colocaram-nas em caixas. Desse modo, levaram essas caixas para dentro da escotilha do Módulo Lunar usando um dispositivo de polia de cabo chamado Transportador de Equipamento Lunar. Entretanto, essa ferramenta mostrou-se pouco acertada e, em missões posteriores, astronautas carregaram equipamentos e amostras manualmente.
Logo depois, Armstrong pulou para o terceiro degrau da escada e subiu no Módulo Lunar. Em seguida, os astronautas diminuíram o peso do estágio de subida jogando fora suas mochilas e equipamentos que não possuíam mais funcionalidades. Às 5h01min a escotilha foi fechada. E, por fim, pressurizaram a espaçonave e, a 384.400 km de casa, foram dormir.
Após 7 horas de descanso, os dois astronautas foram acordados pelo Controle da Missão para se prepararem para o voo de retorno. Assim, o Eagle acionou seus motores 2 horas depois e foram ao encontro de Collins a bordo do Columbia. Nesse momento, devido a exaustão do motor de subida, o mastro da bandeira caiu. Diante disso, nas missões posteriores as bandeiras eram fixadas mais distantes, pois assim havia uma segurança maior quanto ao estado que ela ficaria após a exaustão do motor.
Às 21 h 24 min UTC de 21 de julho, o Eagle chegou no Columbia e em 11 minutos os dois acoplaram-se. Um pouco mais de 2 horas depois o estágio de subida foi descartado na órbita lunar.
Curiosamente, em novembro do mesmo ano, foi comentado que o Eagle ainda estava orbitando a Lua. Relatórios mais recentes da NASA dizem que a órbita do Módulo Lunar havia decaído e ele caiu em um local que não se sabe exatamente.
De volta à Terra
Um dia antes da amaragem, dia 23 de Julho, os astronautas fizeram uma transmissão na qual Michael Collins disse:
“…o foguete Saturno V, que nos colocou em órbita, é uma peça de equipamento incrivelmente complicada, cada peça do qual funcionou perfeitamente… Sempre tivemos confiança que o equipamento funcionaria corretamente… Tudo isso só foi possível por meio do sangue, suor e lágrimas de muitas pessoas… Tudo o que vocês veem são nós três, porém debaixo da superfície estão milhares e milhares de outros, para todos os quais eu gostaria de dizer, ‘Muito obrigado’.”
O porta-aviões USS Hornet, sob o comando do capitão Carl J. Seiberlich, foi selecionado como a embarcação de recuperação primária para a Apollo 11. Ele substituiu o navio de assalto anfíbio USS Princeton, que havia recuperado a Apollo 10 em 26 de maio de 1969. Sendo assim, o navio chegou em Pearl Harbor no Havaí em 5 de julho e embarcou helicópteros, uma unidade especializada na recuperação das naves Apollo, mergulhadores especializados, uma equipe de recuperação da NASA e por volta de 120 representantes da imprensa.
Além disso, equipamentos especiais de recuperação também foram carregados, incluindo um Módulo de Comando falso para treinamento. Dia 24 o trio foi resgatado em segurança, ali a história não só foi feita mas como foi concluída com extrema satisfação.
O Legado
Assim, toda a missão foi de encontro com o objetivo estabelecido por Kennedy 8 anos antes. Durante a alunissagem, partes do discurso do ex-presidente passaram na tela do Controle da Missão junto com os dizeres “TAREFA REALIZADA, julho de 1969”. Junto ao êxito da Apollo 11, os EUA demonstraram sua superioridade tecnológica sobre outros países, além de ter dado sua vitória na Corrida Espacial. Além disso, novas frases entraram no cotidiano popular, como as famosas palavras de Armstrong ao pisar pela primeira vez em solo lunar.
Ademais, outro aspecto relevante é que muitos norte-americanos desprivilegiados enxergaram a Apollo 11 como algo simbólico de separação no país. Uma prova disso foram os manifestantes ao lado de fora do Centro Espacial Kennedy um dia antes do lançamento. Portanto, desigualdades raciais e financeiras frustraram cidadãos que se perguntaram por que tanto dinheiro estava sendo gasto no Programa Apollo e não nos cuidados dos humanos.
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Dica de Filme: Apollo 11, Todd Douglas Miller
Autor: Carlos Danyel