A aviação é uma modalidade muito recente na história da humanidade, tendo surgida há pouco mais de um século. Ela apresentou uma evolução extremamente rápida, principalmente devido à sua aplicação bélica e às vantagens que apresentava à economia.
Muito se discute a respeito do início da aviação como conhecemos. Entretanto, uma das datas tidas como centrais é 23 de outubro de 1906. No campo de Bagatelle, em Paris, na França, nessa data Santos Dumont alcançou o feito de conseguir taxiar, decolar, voar nivelado e pousar um avião impulsionado por um motor a gasolina. Dessa forma, ele voou cerca de sessenta metros a uma altura de dois a três metros. Para realizar tal feito, ele utilizou o “Oiseau de Proie” (na tradução em português, “ave de rapina”). Com isso, damos o crédito à Santos Dumont por ser um dos pioneiros da aviação experimental.
A popularização da aviação experimental
Aviação experimental é, basicamente, a prática de construção caseira de aviões, ou seja, um hobby para várias pessoas que não possuem estudo formal na área. Portanto, não é necessário possuir um diploma de engenheiro aeronáutico para tal. No Brasil, muitas dessas pessoas fazem parte de associações como a Associação Brasileira de Aviação Experimental (ABRAEX) e a Associação Brasileira de Ultraleves (ABUL). Além disso, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), existem mais de 5 mil aeronaves na categoria experimental sobrevoando o céu do Brasil. Isso inclui os ultraleves, balões, girocópteros, dirigíveis, planadores, helicópteros e motoplanadores.
A construção de aeronaves experimentais intensificou-se no Brasil a partir da década de 1990, e pode ocorrer através da montagem de projetos próprios ou por uma montagem final profissionalizada de conjuntos amadores. Conjuntos esses que, inicialmente, eram concebidos para que uma pessoa pudesse produzir de uma forma “caseira” a sua aeronave particular. Contudo, esse conceito original no qual a pessoa recreativamente constrói sua aeronave foi, com o passar do tempo, sendo substituído por outro, no qual uma pessoa compra o kit e outra, geralmente um profissional da área, faz a montagem final.
Essa distorção da ideia inicial aconteceu devido à popularização dos kits. Desse modo, resultou na queda dos preços, o que aumentou a quantidade de pessoas interessadas. Portanto, como a maioria dos compradores desses kits começou a não visar a construção da própria aeronave, preferindo somente operá-las, a montagem “profissional” foi permitida pelo órgão regulador da época (o antigo DAC – Departamento de Aviação Civil). Entretanto, para isso é necessário que o operador/proprietário demonstre que construiu a maior parte da aeronave.
LSA: uma nova categoria
Devido à grande atividade de construção de aeronaves experimentais no país, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) vem implementando, em caráter de teste, a categoria de aeronave leve esportiva, ou light sport aircraft (LSA), que substituirá a dos atuais ultraleves. Essa está distribuída em duas categorias: o ultraleve não propulsado (mais popularmente conhecido como planador), e o ultraleve autopropulsado (os chamados ultraleves). E é nesta última categoria que a ANAC vem incorporando alterações na regulamentação.
A mais importante alteração empregada pela ANAC reduz o peso máximo de decolagem de uma LSA para 600 kgf (quilograma força). Anteriormente esse valor era de 750 kgf. Além disso, a nova categoria (LSA) englobará aeronaves menos complexas, com trem de pouso e passo da hélice fixos. Por enquanto, para voar em uma aeronave LSA, os certificados são os mesmos emitidos para um piloto de ultraleve: o certificado de piloto esportivo (CPD) e o certificado de piloto de recreio (CPR).
ALE Especial e ALE Experimental
Com essa nova categoria de aeronaves, a LSA, também vieram duas subdivisões: o ALE especial (Special LSA ou S-LSA) e o ALE Experimental (E-LSA).
O ALE especial é quando o avião é entregue ao operante totalmente pronto, com as configurações ajustadas. Pode-se utilizá-lo, ou não, em atividades como reboque de planadores, instrução de voo em escolas de aviação, dentre outras. Para fazer a manutenção dessa aeronave, empresas certificadas ou mecânicos habilitados devem sempre executá-la. Além disso, ela só poderá ser modificada com a aprovação do fabricante ou da autoridade de aviação civil.
Já o ALE experimental é uma aeronave experimental construída por um amador, por um especialista contratado, ou pela própria empresa fabricante do kit, usando como base um kit proveniente do projeto do ALE especial. Nessa categoria existe uma vantagem muito interessante, que é a não aplicação da regra dos 51%. Ou seja, não é preciso que a maior porção da aeronave seja construída pelo proprietário. Nesse caso, o proprietário da aeronave poderá decidir, por exemplo, a forma como serão feitos os acabamentos e a instalação de equipamentos da aeronave em si. Mas é necessário lembrar também que essas tarefas devem estar incluídas no manual de construção da aeronave.
O que faz uma aeronave ser LSA?
Para que você entenda uma pouco melhor sobre essa nova categoria que vem tomando conta da aviação, listaremos aqui algumas características de uma LSA:
- Esse tipo de aeronave possui, no máximo, espaço para dois ocupantes;
- Aviões incluídos nessa categoria devem ser monomotores;
- É preciso que o passo de hélice e o trem de pouso sejam fixos;
- O peso máximo de decolagem deve ser de 600 kgf quando operado em solo ou de 650 kgf quando operado em água;
- A velocidade máxima de estol é de 45 nós, ou de 83 km/h, aproximadamente;
- A velocidade em voo nivelado pode atingir até 120 nós, ou seja, aproximadamente 222 km/h;
- A cabine é não pressurizada;
- As condições de sua operação são dadas pela Visual Flight Rules (VFR – Regras de Voo Visual). O VFR é o conjunto de procedimentos e regras utilizados na operação de aeronaves quando as condições atmosféricas permitem ao piloto controlar visualmente a altitude do aparelho, que prevê sua operação apenas no período diurno.
Além disso, é preciso lembrar que a ASTM (American Society for Testing Materials) preestabelece todas essas regras e características. Ou seja, a maioria dessas características são convencionadas dessa maneira. Apesar de não elaborarem essas normas especificamente por uma autoridade aeronáutica, elas são aceitas em todo o mundo. Isso fornece uma base legal para a produção e comercialização seriada desse tipo de aeronave.
Uma mudança favorável
Aos poucos, os aeronautas estão começando a entender que a implantação da LSA é aceitável e bastante positiva. Sua criação expande a praticabilidade econômica para novos projetos e recursos, além de aumentar a segurança operacional e de voo. Também facilita o acesso a novas tecnologias (de embarque, de voo e operação) e promove a legalização da categoria. Graças à padronização de novas normas, é possível obter um excelente padrão de qualidade.
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2 comentários em “Você sabe o que é uma LSA?”
Olá bom tarde
Gostaria de saber se a autorização para modificações em uma S-LSA tbm pode ser expedida pela ANAC.
Obrigado.
Olá, Júlio César!
Sim, como a ANAC é a autoridade aeronáutica aqui do Brasil, ela também fica responsável por toda a regulamentação de Aeronaves Leves Esportivas. Além disso, para essa classificação de aeronave devem ser respeitadas as normas da regra operacional estabelecidas pelo RBHA nº 91.
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